Programa Esporte e Lazer da Cidade UFPR: o estudo da atuação de duas agentes sociais da Educação Física e da Biologia Programa Deporte y Tiempo Libre de la Ciudad UFPR: estudio de la intervención de dos agentes sociales de la Educación Física y de la Biología |
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*Graduação em Educação Física pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná Mestrado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná Doutorado em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas Pós-doutorado na Universidade de Barcelona. Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal do Paraná. Coordenadora do GEPLEC- Grupo de Estudos e Pesquisas em espaços lazer e cidade da Universidade Federal do Paraná. **Especialista em Educação Física Escolar pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná Possui graduação em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná ***Mestre em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná. Pesquisadora do GEPLEC- Grupo de Estudos e Pesquisas em espaços lazer e cidade da Universidade Federal do Paraná. Secretária Estadual do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte - PR gestão (2011-2012). Atualmente professora substituta do Departamento de Educação Física da UFPR |
Simone Rechia* Rafaela Silva Donato** Aline Tschöke*** (Brasil) |
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Resumo Este estudo analisa a atuação profissional de duas agentes sociais do Programa Esporte e Lazer da Cidade, na Cidade de Curitiba-PR e a contribuição de duas áreas distintas – a Educação Física e a Biologia - trabalhando de forma articulada em um projeto social. A metodologia utilizada foi a pesquisa qualitativa e interpretativa, baseada em observações e entrevistas semi-estruturadas. A partir dos dados coletados infere-se a importância de ações no âmbito do Esporte e Lazer em comunidades carentes, a variedade de atividades contempladas quando duas áreas distintas unem-se em favor de um mesmo objetivo e a relevância de um trabalho conjunto em relação ao planejamento das atividades. Por fim, conclui-se a partir dos resultados dessa investigação que o planejamento e a atuação destas duas agentes sociais de forma inter-relacionada é uma possibilidade de trabalho no âmbito do esporte e lazer comunitário. Unitermos: Esporte. Lazer. Educação Física.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 160, Septiembre de 2011. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Em todo lugar a educação segundo Paulo Freire, é uma relação e não somente uma instituição, da mesma maneira a conexão do Lazer com a educação é essencialmente subjetiva e interdisciplinar. Este trabalho tem como tema central as possibilidades de intervenções no âmbito do lazer em uma ambiente de educação não formal, de duas agentes sociais do Programa Esporte e Lazer da Cidade UFPR, núcleo Curitiba-PR com formação em áreas diferenciadas, Biologia e Educação Física, e a contribuição dessas duas áreas distintas de forma inter-relacionada.
O PELC (Programa de Esporte e lazer na cidade) foi implantado pela SNDEL (Secretaria Nacional de Desenvolvimento do Esporte e do Lazer) do Ministério do Esporte. Segundo o Manual de Orientação do PELC (2004):
[...] o programa visa, em síntese, suprir a carência de políticas públicas e sociais que atendam às crescentes necessidades e demandas da população por esporte recreativo e lazer, sobretudo daquelas em situações de vulnerabilidade social e econômica, reforçadoras das condições de injustiça e exclusão social a que estão submetidas. (BRASIL-A, p.4)
Desta forma, partindo do Lazer e do Esporte recreativo, esse programa visa contribuir à emancipação e o desenvolvimento humano das populações menos privilegiadas.
Para tanto o PELC mobiliza dois tipos de ações, o que segundo o Ministério do Esporte torna-se um desafio. A primeira ação seria aquela na qual o programa trabalharia com todos os segmentos, crianças, jovens, adultos, idosos, portadores de deficiência e necessidades especiais educacionais. E a segunda ação seria específica ao atendimento da faixa etária a partir de 45 anos que segundo este documento denomina-se “Vida Saudável”.
Tanto a primeira quanto a segunda ação, estão direcionadas para a consolidação do esporte e lazer como direitos sociais. E, portanto:
[...] como política pública de estado que viabilize e garanta o acesso da população brasileira a ações contínuas de esporte e lazer que respondam às necessidades localizadas nesse campo da vida social, tendo, ainda nesse conjunto, uma ação para fomento e difusão de Eventos Interdisciplinares de Esporte Recreativo e de Lazer. (BRASIL-A, p.4)
Os propósitos do projeto são viabilizados pelos agentes sociais de cada comunidade. Segundo orientações do PELC/UFPR, desenvolvido mais especificamente pelo GEPLEC- Grupo de Estudos e Pesquisas em Espaço, Lazer e Cidade, em seu período de atuação deverá manter-se uma formação permanente aos agentes sociais de esporte e lazer. São reconhecidos como agentes sociais: professores, estudantes, educadores sociais/comunitários, gestores e demais profissionais de áreas afins. Assim, “o perfil e formação desses agentes atenderão as características e realidades locais, sendo indispensável uma efetiva formação em serviço, com vista à qualificação das ações desenvolvidas.” (RECHIA, 2007)
Para tanto, nas áreas de fácil acesso ao ensino superior é recomendado que estes agentes sejam estudantes e/ou professores de educação física, artes e outras áreas afins. No entanto conforme a realidade da comunidade assistida os agentes sociais poderão ser líderes comunitários e também os produtores culturais locais como os capoeiristas, artistas entre outros. No caso escolhido para esta pesquisa todos os agentes sociais estão diretamente ligados à academia, sendo profissionais formados ou em formação. (RECHIA, 2007)
Desta forma fomentando que o educador pode atuar em diferentes campos de ensino questiona-se: como duas agentes sociais do PELC, uma da área da Biologia e outra da Educação Física, podem intervir nesse ambiente de educação não formal?
Inicialmente aponta-se que a Educação Física é uma disciplina capaz de intervir nas relações interpessoais, em qualquer situação social, coloca-se neste momento as possíveis atuações da Educação Física como ferramenta fundamental nas ações do PELC, que tem um viés formador de cidadãos completos e autônomos. E acreditando-se que este programa do Governo Federal tem o necessário para dar suporte a uma comunidade carente no âmbito do esporte e lazer, neste trabalho se aposta na análise da atuação das duas agentes sociais, apresentando as possíveis formas de intervenção social no aspecto educacional em atividades de esporte e lazer, além de compreender a realidade encontrada.
Assim, o objetivo geral deste trabalho é investigar as ações do PELC, com a observação das atividades realizadas no programa dirigidas por duas agentes sociais, uma da área da Educação Física e outra da Biologia.
Metodologia
Para realização dessa pesquisa de cunho qualitativo, utilizou-se método interpretativo através dos seguintes instrumentos metodológicos: (1) Entrevista semi-estruturada: composta por temas específicos e perguntas abertas, além disso, segundo Laville e Diobbe (1999, p.333) “... toda liberdade é mantida no que concerne á retomada de algumas questões, a ordem nas quais as perguntas são feitas e ao acréscimo de outras improvisada.” (2) Observação: neste caso optou-se por uma técnica intermediária de observação, pois as ações almejadas (relações agente social comunidade) não são facilmente circunscritas, a priori, por isso recorremos a uma abordagem adaptada ao nosso objeto de estudo. Isto é, registraram-se os pontos a serem observados a partir do encontrado no conteúdo das entrevistas e focou-se o olhar nesses pontos e registrou-se os mesmos em um diário de campo.
Para pesquisa foram selecionadas duas agentes que trabalham no mesmo núcleo, ambas já graduadas em sua área específica. Sendo a primeira licenciada em Educação Física e a segunda Licenciada em Biologia.
A atuação do educador como agente social
Para FREIRE (1996, p.10), um educador progressista e crítico deve ter sua pedagogia “fundada na ética, no respeito à dignidade e a própria autonomia do educando.” Assim deve ser também a ação educativa no PELC que tem na emancipação da comunidade seu objetivo principal. Todavia, segundo Mascarenhas (2004, p.54), para a ação educativa do lazer acontecer nos grupos sociais, é necessário não apenas um agente social. É necessário um agente de lazer/educador, e sobre esta importância, o autor disserta:
[...] é um intelectual comprometido com a luta pela emancipação popular, aquele que elabora e organiza junto aos grupos sociais o saber orgânico. A sua ação militante faz o processo educativo avançar e, apesar de todo pessimismo estrutural e conjuntural, encanta a construção de resistências e arma o grupo para o seu ‘que fazer cotidiano’.
Sendo assim, para este mesmo autor não basta um agente de lazer/educador, mas um coletivo de educadores que irá junto ao grupo dividir saberes educando-se “mutuamente no interior de um processo cujas personalidades e iniciativa de cada um conjugam disciplina e autonomia.” (MASCARENHAS, 2004, p. 54). A partir disso, o entendimento de lazer-educação e compreensão da realidade será ambivalente à todos esses educadores. Dessa forma, os agentes sociais ao adentrar nos espaços de intervenção irão reconhecer as necessidades das comunidades, se adaptarão com mais facilidade e não serão neutros à realidade assistida.
Então, sobre este assunto, FREIRE (1996, p.110) afirma que é impossível qualquer relação de educação ser neutra, pois para “que a educação fosse neutra era preciso que não houvesse discordância nenhuma entre as pessoas com relação ao estilo político a ser posto em prática, aos valores a serem encarnados.” Para tanto não se deve pretender a neutralidade da educação, mas o respeito, à toda a prova, aos educandos, aos educadores e às educadoras. (FREIRE, idem, ibidem)
Contudo, ao mencionar a educação não neutra e enfatizar que a autonomia deve ser predominante no processo educacional, é necessário dissertar a respeito da liberdade dentro do ato educacional. Para tanto, recorre-se novamente à FREIRE (1996, p.105), cuja idéia sugere que a “liberdade sem limite é tão negada quanto a liberdade asfixiada ou castrada.”
Todo esse contexto gera um âmbito de Educação Popular, que para Graciani (1997) apud Mascarenhas (2004, p.77), é entendida enquanto uma prática social que pode implicar em transformações, produções, novas elaborações em prol do desenvolvimento de camadas diversas, entre elas as populares.
Dessa forma Mascarenhas (2004, p.76) coloca que o mesmo que se fala da escola pode ser dito a respeito do lazer. Segundo ele:
[...] a identificação do tempo livre como espaço negativo faz com que o lazer ─ assim como a escola ─ seja também utilizado como um instrumento para a retirada das crianças da rua. [...] se por um lado o lazer tem valor pedagógico reconhecido, por outro, vem desempenhando papel fundamental de controle sobre o pouco tempo livre que resta aos filhos e filhas da classe trabalhadora.
Sendo assim, partiremos para a análise da intervenção das agentes sociais pesquisadas, considerando a forma este tempo livre das crianças vem sendo ocupado no âmbito do Programa Esporte e Lazer da Cidade e ainda argumentando com Mascarenhas (2007, p.18) “dimensionar os desafios e as alternativas para a materialização de políticas públicas no campo do lazer verdadeiramente sintonizado com a conquista da cidadania e autodeterminação popular”.
As agentes sociais e a proposta do PELC/UFPR
Partindo que um agente social do PELC, pode ser de qualquer área, inicia-se a questão da formação das duas agentes sociais elencadas, refletindo sobre o diferencial estabelecido no PELC/UFPR, ou seja, as relações com o meio ambiente.
O PELC/UFPR, teve como objetivos específicos: propiciar ao educando atividades lúdicas que possam despertar e sensibilizar para a integração harmônica na relação ser humano/natureza a partir de vivências corporais; instrumentalizar práticas alternativas de intervenção do ser humano sobre o meio; permitir a integração de diferentes áreas de estudo e disciplinas escolares através de atividades multidisciplinares buscando a interdisciplinariedade; estimular alunos em ambiente público agradável onde se debatam assuntos atuais que afetam o cotidiano, através de atividades lúdicas, artistícas, festivas e de práticas corporais na natureza. Sendo assim buscando este diferencial a agente social da área da Biologia estava presente no PELC para auxiliar na (re) significação que uma atividade de Lazer pode ter em relação ao meio ambiente.
Desta forma, nesse momento buscando desvelar o que leva uma professora formada a trabalhar em um projeto social coloca-se a fala de uma das agentes:
A partir dos projetos de Licenciatura fui sempre me envolvendo mais com a questão social. Depois de formada, a oportunidade de trabalhar no PELC me possibilitou dar continuidade a um trabalho deste cunho comunitário.(Agente social da Biologia)
Ainda sobre a questão do desafio que se torna trabalhar em um contexto social menos privilegiado a agente social da Educação Física coloca:
A minha formação é em Licenciatura em Educação Física e durante a época da faculdade participei de vários projetos, a maioria na área do Lazer. Depois de formada recebi o convite de continuar agora no PELC. Logo de início achei a proposta desafiadora e até achei que não conseguiria atender as expectativas do programa, mas ao mesmo tempo a ‘beleza’ do trabalho que estava proposto me entusiasmou.
Com isso pode-se observar que a intenção de se trabalhar em um projeto social não surge aleatoriamente. É possível perceber que as pessoas vão no decorrer de sua formação se identificando com ações necessárias para o trabalho com este tipo de público, e ao adentrar em uma comunidade se identificam, colocando no trabalho uma maneira individual de interagir com a mesma.
Para resgatar os antecedentes do PELC nesta comunidade foram feitas algumas perguntas às agentes em relação à implantação, planejamento e metodologia nas atividades do projeto. Neste momento relata-se através das falas das agentes sobre estes aspectos.
Segundo a agente social de Educação Física a implantação:
[...] começou com a escolha da comunidade e o reconhecimento dos espaços disponíveis para as realizações das atividades e os parceiros que nos apoiariam dentro destes espaços. Logo depois começamos a divulgar as atividades do PELC e aos poucos através do ‘boca a boca’ começaram a surgir os frutos do nosso trabalho.
Interessante na fala desta agente é que ela relata as ações no plural, o que demonstra que as atividades são feitas em conjunto. Já na fala da agente social da Biologia pode-se perceber a implantação em relação aos participantes do projeto, através do relato a seguir:
A implantação das atividades foi de fácil aceitação por parte dos alunos. As idéias e Educação Ambiental sempre envolvem questões de senso comum. Foi a partir deste ponto que comecei discussões mais elaboradas para a reorganização das idéias, sempre aliadas a práticas de lazer.
Através destas falas foi possível perceber que ambas agentes partiram da comunidade ao relatar como foi a implantação do PELC. Isso demonstra que há relação direta entre comunidade e as agentes sociais, ao pesquisar os interesses de cada grupo.
Assim, partindo do pressuposto que para se planejar é necessário conhecer, coloca-se agora como foi para cada agente social o planejamento das atividades:
O planejamento é baseado no lugar a ser trabalhado [...]. As ações sempre envolvem questões práticas para serem elaboradas no contexto do bosque, no viés da Educação Ambiental. (Agente social da Biologia)
Pode-se perceber que a preocupação com o planejamento para esta agente social está no trabalho a ser desenvolvido, no entanto corroborando com a idéia de planejamento em conjunto, a agente social da Educação Física relata:
O planejamento das aulas é feito em conjunto com todos os professores e bolsistas do projeto. Definimos os princípios que iremos trabalhar e quais as principais estratégias. Nas aulas temos liberdade de incluir conteúdos às idéias propostas pelo grupo de modo a trabalhar melhor as particularidades de cada grupo.
Analisando esta fala e fazendo relação com a observação da aula desta agente, infere-se que o planejamento em conjunto realmente é um diferencial na ação com esta comunidade. É possível compreender que como cada grupo tem suas peculiaridades, ao se planejar é necessário fazer algo que abranja a todos do programa. No entanto ao se deparar com a realidade de seu grupo é preciso fazer alterações, mantendo os objetivos traçados anteriormente pelo grupo. Com isso, como as atividades do projeto acontecem sempre no contra-turno escolar, foi imprescindível entender a diferença, para estas duas agentes, do ensino escolar formal para o ensino no contra-turno e desta maneira compreender qual a metodologia utilizada por elas dentro do PELC. Assim, através das falas das agentes sociais, poderi-se-a perceber o referencial teórico utilizado pelo grupo e de que forma o mesmo é praticado:
A maior diferença é que lá não somos apenas professores com conteúdos a cumprir durante o ano letivo. No contra-turno buscamos trabalhar as atividades de maneira lúdica, onde o principal objetivo é a formação de princípios e o despertar das virtudes em cada criança. A metodologia utilizada é a Pedagogia Crítica do Lazer, baseada no autor Fernando Mascarenhas. (Agente social da Educação Física)
Neste momento, é possível verificar que mesmo sendo de áreas distintas as agentes, estão em sintonia com o trabalho realizado, pode-se confirmar isto através da seguinte fala da agente social da Biologia:
O ensino do contra-turno é mais direcionado individualmente, quando se diz respeito às questões da escola (como tarefas de casa, por exemplo). Além disto, o trabalho pode ser mais amplo, tendo questões que não estão no currículo formal da Escola. O PELC utiliza, nestes espaços, uma metodologia que visa as questões pessoais do grupo a ser trabalhado, com atividades direcionadas às diferentes faixas etárias presentes no grupo.
Ainda em relação a prática docente é importante inferir a respeito de como está o andamento do PELC na comunidade e quais são as dificuldades encontradas pelas agentes no seu dia-a-dia na comunidade. Para a agente social da Biologia o PELC desde o início tem evoluído. O programa já é reconhecido na região e encerou as atividades com este financiamento específico em 2010, dando continuidade com outras formas de fomento. O mesmo é relatado pela agente de lazer/educadora da Educação Física que também coloca o conhecimento sobre a comunidade, seus conflitos e suas necessidades. Ela ainda disserta sobre o principal objetivo do projeto:
[...] agora estamos buscando formas de ‘fixar’ a nossa principal idéia que é a da autonomia dos participantes sobre as atividades de esporte e lazer.
Esta autonomia, relacionada às ações do PELC, não é atingida somente pelo fato dos alunos conseguirem ou não encaminhar as atividades sem a presença da figura do educador. Mas sim por todas as ações das quais a comunidade optou por participar, além dos diferentes conhecimentos elaborados junto com agentes de lazer/educadores.
A respeito das dificuldades encontradas na prática docente e também em vivenciar uma realidade na qual as agentes não estão acostumadas elas colocam:
Diversas vezes me deparei com situações inesperadas e fora do meu contexto de vida pessoal. Situações sempre muito carregadas de emoção por parte daqueles que ali vivem, fazendo com que eu às vezes deixe um pouco de lado minha programação para atender ou tentar atender àquela situação. Com relação ao local em um geral [...], este interfere a todo instante, desde o planejamento à ação, já que é necessário avaliar o contexto e trabalhar com ele. Minha maior dificuldade foi me deparar com uma realidade diferente da que eu estava acostumada. (Agente social da Biologia)
A agente social da Educação Física ressalva sobre a ansiedade em relação ao trabalho na comunidade:
No início [...] o medo era pela ansiedade de como seríamos recebidos na comunidade. Os conflitos sociais marcantes e tão próximos de nós, criou um ambiente de descobertas e isso só ajudou na minha prática docente [...]. A maior dificuldade está no relacionamento ao atendimento as diferentes faixas etárias no mesmo horário (crianças de 6 a 12 anos) e perceber o quanto eles necessitam de carinho, atenção e [...] nem sempre conseguir atender a todos.
Contudo mesmo com as dificuldades enfrentadas as duas agentes acreditam que o trabalho em conjunto com profissionais de diferentes áreas é muito produtivo, no entanto é um desafio conseguir direcioná-lo de forma interdisciplinar, sendo esta uma tarefa com resultados produtivos e ao mesmo com uma execução complexa.
Considerações finais
Com esta pesquisa foi possível constatar que o trabalho em conjunto de diferentes áreas, atualmente, torna-se necessário, pois a diversidade de elementos que constituem a educação faz com que uma área complemente a outra e assim possam realizar atividades mais variadas, sobretudo no caso dos espaços de educação não formal.
Foi possível perceber que a professora de Educação Física é fundamental na promoção de interações das crianças no ensino de contra-turno, devendo esta motivar a criação e recriação das atividades propostas, assim como a professora de Biologia irá transmitir de outras maneiras os sentimentos em relação ao meio ambiente. Isso só é possível, se existir uma formação adequada e uma pré-disposição ao trabalho social destas agentes de lazer/educadoras, garantindo que elas irão estimular novas formas de apropriação dos espaços existentes na comunidade, através da exploração de materiais diversificados, dentro de um ambiente lúdico e reflexivo.
Contudo através das análises realizadas foi possível observar que a Educação Física e a Biologia estão inter-relacionadas às propostas estabelecidas pelo PELC/UFPR, contribuindo tanto para o êxito das ações desempenhadas quanto para o acolhimento pela comunidade. O planejamento coletivo também apresentou o mesmo direcionamento.
Assim, partindo do relato das agentes acredita-se que um projeto como o PELC possibilita a criação de alternativas para a comunidade no âmbito do esporte e lazer, o que pode acrescentar a seu cotidiano novos costumes e hábitos, onde os profissionais de diferentes áreas trabalhando em conjunto podem vir a contribuir uns com os outros, repassando experiências e vivenciando outras junto à comunidade.
Referência
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MARCASSA, Luciana; SOUSA, Wilson Luiz Lino de. Da experiência lúdica à formação do cidadão: pressupostos políticos e pedagógicos do Esporte e Lazer da cidade de Ipatinga. In: Gestão pública e política de lazer: a formação de agentes sociais. Campinas, SP: Autores Associados, 2007.
MASCARENHAS, Fernando. Lazer como prática da liberdade: uma proposta educativa para a juventude. 2 ed. Goiânia: Editora UFG, 2004.
_____. Lazer e utopia: limites e possibilidades de ação política. Revista Movimento, Porto Alegre, vol.11, n.3, PP.155-182, set/dez.
_____. Outro lazer é possível! Desafio para o Esporte e Lazer da Cidade. In: Gestão pública e política de lazer: a formação de agentes sociais. Campinas, SP: Autores Associados, 2007.
RECHIA, Simone. et all. Manual de Orientações para o Programa Esporte e Lazer da Cidade da Universidade Federal do Paraná. Curitiba: 2007.
SOUSA, Wilson Lino de. Desenho Conceitual do Programa Esporte e Lazer da Cidade. Palestra proferida no curso de formação para agentes sociais do Programa Esporte e Lazer da Cidade/Universidade Federal do Paraná. Curitiba: agosto de 2008.
STIGGER, Marco Paulo. Desporto, Lazer e estilos de vida: uma análise cultural a partir de práticas desportivas realizadas nos espaços públicos da cidade do Porto. Dissertação apresentada em doutoramento em Ciências do Desporto na Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto. Porto: julho de 2000.
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